Apesar da demanda elevada, a expectativa das entidades é de que a disponibilidade do produto se regularize em breve no Centro-Oeste e que outras regiões não sofram com a falta de cimento. No começo do ano, nós esperávamos um crescimento de 5% nas vendas em todo país. Mas as vendas cresceram muito mais. Até agosto, o crescimento médio no país era de mais de 8%. Na região Centro-Oeste, a alta foi maior ainda, de quase 15%, explicou José Otávio Carvalho, secretário executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). Provavelmente isso provocou um desequilíbrio e o cobertor ficou curto.
É um problema pontual de abastecimento, revelou Melvyn Fox, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Como houve uma demanda maior na região, foi necessário importar cimento de outros estados. Com isso, houve uma elevação nas despesas de transporte e atraso nas entregas. Eduardo Zaidan, diretor econômico do Sindicato das Indústrias de Construções de São Paulo (Sinduscon-SP), descartou preocupações com o abastecimento de cimento em sua região. Aqui em São Paulo não falta cimento. E acho difícil que isso aconteça no futuro, porque a indústria de cimento sempre operou com uma capacidade folgada. Talvez aconteça algum problema de distribuição aqui e ali, mas não acredito que vai faltar cimento.
Segundo Fox, a preocupação dos empresários do setor é a possibilidade de que as empresas intermediárias do setor comecem a fazer estoque de cimento, temendo um desabastecimento. É preciso que fique claro que não vai faltar cimento. Mas se as pessoas começarem a fazer estoques desnecessariamente, aí sim podemos ter problemas, disse ele.
A Abramat espera um crescimento de 12% no mercado de materiais de construção em 2007 por conta apenas do ciclo de crescimento da construção civil. As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciadas em janeiro pelo governo federal, estão apenas engatinhando até agora, segundo ele, e têm pouca influência sobre o crescimento do setor de construção observado neste momento. É para 2008 que ele espera que o PAC engrene de vez, o que levaria o setor a um novo ano crescimento, de 10% a 12%, prevê Fox.
Segundo o SNIC, os fabricantes de cimento bateram seu recorde de vendas em agosto, com 4,3 milhões de toneladas comercializadas, um crescimento de 13,3% sobre o mesmo mês em 2006. Batemos o recorde de vendas em agosto e, embora ainda não tenhamos os dados fechados, sabemos que setembro e outubro certamente virão muito fortes, adiantou Carvalho, que prevê 10% de crescimento na venda de cimento até o fim do ano. O acumulado até agosto já chega a 8,4%. Carvalho acredita que as próprias indústrias já instaladas no Centro-Oeste têm capacidade para suprir o ciclo de crescimento explosivo da região. A informação que eu tenho é que as empresas já estão cuidando disso, disse ele, lembrando das dificuldades que as fabricantes enfrentam na reativação dos fornos que ficaram ociosos durante a recessão que o setor enfrentou antes do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não se pode ligar um forno hoje e depois desligar daqui 30 dias. Mas fique seguro de que as empresas estão investindo.
No mês passado, só a Votorantim Cimentos anunciou investimentos de R$ 1,6 bilhões para ampliação de sua capacidade, o que incluía a reativação da unidade em Cocalzinho, (GO) e a construção de outra planta em Xambioá (TO).
O aumento pela procura pelo cimento elevou os preços do produto em 5,01% só em setembro, conforme levantamento da Fundação Getúlio Vargas. Em São Paulo, a elevação foi ligeiramente maior, de 5,22%, segundo levantamento da Sinduscon. A entidade apurou que o cimento acumula alta de 7,48% em 2007 e 8,13% nos últimos doze meses.
Nas regiões atingidas pela falta de cimento, no entanto, as altas foram bem maiores. Aqui, a saca passou de R$ 9,40 para cerca de R$ 10,50. E a gente sabe que existe a intenção de subir o preço até R$ 12,50 , disse Sarkis Nabi Curi, presidente da Comissão de Materiais e Tecnologia da Câmara Brasileira de Construção Civil e do Sinduscon de Goiás. Em outras regiões a coisa está pior. Ouvimos relatos de Rondônia, onde estão cobrando R$ 21 pela saca.
Segundo Curi, a falta de cimento levou muitas obras de diversos pontos do país serem paralisadas. Eu acredito na negociação e acredito que as empresas vão reverter isso. Todos esperamos muito por esse momento de crescimento do mercado. Não é hora para lucros exagerados e sim de responsabilidade, disse. |