Um setor da economia brasileira pode servir de termômetro dos efeitos da crise financeira na economia real. As indústrias de cimento anunciaram que as exportações caíram pela metade este ano.
Ao mesmo tempo, as vendas no mercado interno subiram 13% – uma mostra de que a economia brasileira continua aquecida. Esta procura já se refletiu no preço, que já aumentou, em média, 30%.
A situação ficou ainda mais complicada no último mês, porque a Votorantim, maior fabricante do país, parou uma fábrica para fazer manutenção em um forno. O problema acontece justamente na época de maior consumo de cimento no ano.
No depósito de material de construção de Gilmar Dias, na Grande São Paulo, a área dos sacos de cimento está vazia. “Hoje era para eu ter estocado, pelo menos, 250 sacos de cimento, mas está totalmente vazio”, comenta o dono da loja, Gilmar Dias.
Num condomínio em Ribeirão Preto (SP), o estoque de cimento só dá para mais uma semana. Para não parar a obra, o construtor José Batista Ferreira está comprando no varejo.
“Vou de loja em loja comprando dois ou dez sacos de cimento. Com a conta da indústria, temos que fazer uma previsão de 20 dias e ainda contratar frete adicional para buscar o cimento”, diz o construtor José Batista Ferreira.
Com as construtoras disputando cada saco de cimento disponível no mercado, a falta do produto atinge também o consumidor comum. O sonho de reformar ou construir a casa própria está mais caro.
Em maio, quando o comerciante Uribatan Garcia de Carvalho começou a fazer um sobrado em Pouso Alegre (MG), o saco de cimento custava R$ 14. Hoje ele paga R$ 18, quase 30% a mais. A obra é financiada.
“Outro financiamento é inviável. Vai ter que ser de recurso próprio mesmo. Vou vender o automóvel ou algo assim para poder completar essa diferença”, comenta o comerciante Uribatan Garcia de Carvalho.
“Estamos em uma fase de altíssimo consumo, que se iniciou no ano passado. Exatamente no momento mais crítico do consumo, que é esse período de meses mais secos, nunca se vendeu tanto cimento. Nos últimos meses, temos batido todos os recordes de venda de cimento”, explica o representante do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento, José Otávio Carvalho.
A Votorantim informou que a fábrica de Itaú de Minas, que abastece o sudeste, volta a operar hoje com a capacidade total, mas o fornecimento só deve estar totalmente normalizado em uma semana.
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